Articulista destaca o Carnaval

O carnaval, dizem os historiadores, foi festejado e dançado em Roma nos dias que antecediam a quaresma.
Mas passados tantos séculos os folguedos que atualmente se festejam e se dançam no Brasil e são conhecidos com o nome de carnaval sofreram uma inovação portentosa e criaram aspectos característicos de arte, de riqueza e expressão cultural.

 

Assim, hoje o carnaval brasileiro é uma festa nacional, com a paralização das atividades de trabalho, como se feriado fosse, praticamente a vida do brasileiro se transforma e ficam esquecidas as mazelas de cada dia. E tudo é alegria.

 

Os carnavais já foram cultuados nos clubes sociais destinados aos seus sócios, onde se apresentavam ricas e artísticas fantasias que se exibiam em requintadas competições em busca de premiações financeiras ou simplesmente do reconhecimento pela participação.

 

Mas estes folguedos também foram praticados nas ruas e praças onde o povo que não acessava o patamar dos clubes sociais se divertia e esta paixão arrastava multidões que manifestavam suas preferencias pelo exibicionaismo de uns e outros fantasiados representando ou tentando representar figuras alegres ou grotescas da sociedade e muitas vezes fazendo a crítica de aspectos ou de personagens da vida social e política.

 

O povo brasileiro aceitou a troca política da monarquia pela república, mas não perdeu a referência e caracterização de personagens e figurões da vida monarquica. Assim temos a figura do Rei Momo recebendo as chaves das cidades, acompanhado de séquito de rainhas e princesas. É a familia real do carnaval. Rei Momo tem que ser monumental através de seu estofo corpóreo, ou digamos de sua gordura. Rei Momo magro não emplaca.

 

Desta concepção brasileira surgiram empreendimentos criados por especialistas na produção e apresentação de aspectos carnavalescos que procuram dar aos folguedos uma visão de arte e é arte mesmo, quer na música, quer nas danças, quer nas fantasias, quer nas apresentações, quer nos segredos guardados para serem revelados nas apresenteções, e outros pormenores mais, e principalmente na concepção de organizações, que chamamos de blocos, escolas e assemelhados. É um luxo...

 

Estes blocos e principalmente estas escolas carnavalescas são associações que tem vida cultural, artística, dispõem de bandeira, de cores características, de simbolos, de patrimônio e vida financeira, tal como se fossem uma organização comercial.

 

Além de terem sócios e torcedores apaixonados que defendem as cores de sua preferência e tratam os os adversários como rivais.

 

Toda esta grandiosidade depende de recursos financeiros, isto é de dinheiro, para acudir os seus investimentos e consequentes custos. Atualmente para atender estas necessidades o poder público arca com polpudas verbas, gastos justicados pela gritaria e alegria popular.

 

Mas estes gastos de dinheiro não nasceram com os folguedos, foram concedidos com o decorrer dos anos pelos administradores públicos em busca da simpatia popular.

 

Mas em tempos idos e passados a disposição governamental não foi tão benigna com a distribuição de dinheiro.

 

Conta-se, em Florianópolis, que nos anos de 1938 ou 1939, uma comissão de carnavalescos subiu as escadarias do Palácio Rosado, situado na Praça 15, para falar com o Interventor, o Dr. Nêreu Ramos.

 

Recebidos amigavelmente expuserem a finalidade da visita, pois trabalhavam para abrilhantar a alegria do povo. Dr. Nêreu escutou-os atentamente e com a sua sisudez característica perguntou-lhes : “então a pretensão de vocês é obter algum dinheiro para fazer a festa e o povo brincar alegremente.” Os carnavalescos satisfeitos com a compreensão e a pergunta do Interventor, prontamente responderam: “È isto mesmo”.

 

A resposta veio serena e rápida: “Senhores, brinca quem pode.”