Salão do Livro em Lages (SC) é destaque
O bate-papo rendeu muitos risos aos espectadores. Uma dessas ocasiões deu-se devido a textos que circulam na internet e que levam sua autoria sem serem dele. O mais famoso, “Quase”, teria sido escrito por uma catarinense e foi publicado em uma coletânea no exterior
Uma das atrações mais esperadas da segunda edição do Salão do Livro da Serra Catarinense reuniu cerca de 600 participantes no Salão de Ideias João Rath. Depois de sete anos da sua última vinda a Santa Catarina em eventos literários, Luis Fernando Verissimo falou, neste sábado (18), por cerca de uma hora na mesa onde estiveram os escritores Fernando Agustini e João Chiodini.
Depois da conversa, o cronista atendeu aproximadamente 150 pessoas na sessão de autógrafos. Verissimo e a banda Jazz 6 encerraram a programação deste ano, neste último domingo, a partir das 17h30min, com um show na praça Joca Neves, em Lages, SC.
Foram muitas as perguntas dos mediadores e do público. Solicitado a opinar quanto a nova safra de escritores, qual a recomendação, foi objetivo: “Quem lê bem escreve bem”, ou seja, para compor bons textos é preciso estudar muitos livros e ter conhecimento da língua brasileira. Sobre as tecnologias, uma porcentagem de escritores e de jornalistas se preocupa com a possibilidade de os meios impressos (livros e jornais) se extinguirem.
Mas para Verissimo, sempre haverá a necessidade de alguém escrever, seja para a mídia virtual ou impressa. “O que me preocupa é se um dia as máquinas produzirem, você apertar um botão e o texto ficar pronto”, diz. Aos interessados em serem cronistas e não sabem o que é exatamente uma crônica, lembra que até hoje não há uma definição onde começa e termina esse entre os outros gêneros literários.
Perguntado sobre quem indicaria hoje como um grande escritor brasileiro, respondeu que até conhecer Milton Hatoum tinha problema em responder essa questão. (Hatoum, conforme o site da Companhia das Letras, nasceu em Manaus em 1952. Estreou na ficção com Relato de um certo Oriente, em 1989 e vencedor do prêmio Jabuti de melhor romance do ano. Seu segundo romance, Dois irmãos, de 2000, mereceu outro Jabuti e foi traduzido para oito idiomas.
Com Cinzas do Norte, de 2005, ganhou os prêmios Jabuti, Bravo!, APCA e Portugal Telecom. Em 2008, publicou sua primeira novela, Órfãos do Eldorado, e em 2013 teve suas crônicas reunidas em Um solitário à espreita.)
O bate-papo rendeu muitos risos aos espectadores. Uma dessas ocasiões deu-se devido a textos que circulam na internet e que levam a autoria de Luis Fernando Verissimo sem serem dele. O mais famoso chama-se “Quase”, teria sido escrito por uma catarinense e foi até mesmo publicado em uma coletânea no exterior com o nome de Verissimo.
A autora teria se apresentado ao escritor e contado como tudo ocorreu: ela escreveu e suas amigas gostaram tanto que postaram na internet e usaram o nome do escritor para dar credibilidade. Outro texto citado é “Diga não às drogas”, nesse caso, o autor, não identificado, refere-se às drogas como sendo as duplas sertanejas. “Tornei-me ‘persona non grata’ (por causa do texto), em Goiânia”, brinca Verissimo. Goiânia é uma região celeiro de cantores sertanejos.
Outras três questões de destaque
Quando escrevia para jornais, na época da Ditadura Militar instituída no Brasil no Golpe de Estado de 1964, Luis Fernando Verissimo, assim como toda a imprensa do país, sofria censura em seus textos. Recorda, entre as situações, a proibição de citar o nome do político Leonel Brizola e do religioso Helder Câmara. (Helder foi um dos principais defensores dos direitos humanos durante o regime militar. É o único brasileiro indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz.) Por essa e outras razões,
Verissimo, ao ser questionado sobre o que pensa a respeito dos movimentos populares atuais, declarou ser a favor das mobilizações que pedem mais honestidade aos governos, mas ponderou: “Cuidado com quem você marcha”, referindo-se aos que pedem a volta da Ditadura Militar.
Sobre suas obras, algumas de suas personagens foram citadas. Entre elas, a “Velhinha de Taubaté”, única pessoa no Brasil que ainda acredita no governo (quando criou essa personagem, João Batista Figueiredo era o presidente da República, sendo o último militar do regime de exceção instituído em 64). Ed Mort foi adaptado para a tevê e o cinema e o Analista de Bagé faz ainda sucesso nos teatros.
Sobre essa personagem, foi escrita para o programa Viva o Gordo, de Jô Soares. Mas originalmente nasceu como um garçom, “um gaúcho grosso”, que trabalhava num restaurante fino de Paris. Quando Jô Soares deixou de usar a personagem, Verissimo readaptou e criou o Analista de Bagé.
Verissimo atende alunos do Lendo e Relendo.
Na quinta-feira (16), alunos participantes do projeto Estudante Repórter do Lendo e Relendo participaram de uma oficina de crônica com o escritor João Chiodini. E neste sábado eles tiveram a oportunidade de entrevistar Luis Fernando Verissimo. O resultado da atividade será publicado no caderno encartado no Jornal Correio Lageano.
Foto: Marcio Avila
Outras informações acesse o site:
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